Diz a lenda, de acordo com a tradição japonesa, que quem dormir com uma imagem do TAKARABUNE (Barco do Tesouro) debaixo da almofada, ou avistar um terá boa fortuna para sempre. Por isso desejo a todos o que visitarem este local, onde partilho o que me vai na alma, boa fortuna para sempre.

22/12/2010

Quando o mar encontra a terra...



Fecha a porta
Deixa o mundo lá fora
E esqueçamos tudo o que é trivial
E concentremo-nos no que é real
Aqui e agora
Com tudo o que este momento comporta...
Como uma onda na praia
Em mim descansa e desmaia
Entranhando-te na mais fina areia
E a orla suavemente serpenteia...
Ergue-te inteiro e poderoso mas gentil
Para sentir essa maresia subtil
Que se anuncia com a maré vaza
E com a maré alta tudo extravaza...
Assistimos ao nascer do dia
Que a luz do sol irradia
Mirando a lua que lá em cima se apruma
Que ilumina o mar e a sua espuma
Que nos embala e o ritmo nos acompanha
Como se quisesse testemunhar esta façanha
De tamanho e força tal
Que provoca uma tempestade brutal
Em que não há vencedores nem vencidos
Mas apenas dois seres um ao outro rendidos...

20/12/2010

Escrito nas estrelas



Vejo-te através dos meus dedos
Falamos e trocamos segredos
E à distância construimos enredos
Por vezes trocamos confissões
Por meio de sábias afirmações
E embalados por várias canções
Sonhamos e falamos à distância
De acordo com a hora e circunstância
E, sózinhos, reflectimos sobre a consonância...
À parte pensamentos e sonhos
Sempre com momentos risonhos
Com pequenos passos,
Trocando abraços
Subimos numa escada ascendente
A um só caminho conducente
Com o auspício de uma estrela cadente...

11/12/2010

Vento mágico



O vento volta sempre
Assim como quem tem
Alguém no coração em mente
A natureza nada detém
Tudo conflui naturalmente
Tudo conspira para um caminho
No meio de perguntas e respostas
Espreita-se à espera que entre
Uma expressão com carinho
Colocando-se alegrias e tristezas expostas
Ao passo que mais umas linhas averbo
Não é um desafio
Mas sim um auspício
Que se anuncia com estrelas
Com mãos mágicas e belas
O vento, esse, volta sempre...

02/12/2010

A queda da máscara








Finalmente os meus olhos perceberam
A tua verdadeira natureza
Chegaste com mestria mascarada de pureza
Sempre dizendo coisas que se esperam…
Prometeste o paraíso debaixo das estrelas
Com o perfume de três rosas
Mas depressa desmanchaste as telas
Pintadas com frases ricas em sábias prosas
Deste com uma mão, tiraste com a outra
Debaixo de uma capa
De quem sabe das leis do Universo
E professa o bem universal
Primeiro seduziste e depois, à socapa,
Iniciaste um jogo perverso
Ora com uma, ora com outra
Sempre com a imagem de bom serviçal
Desvirtuas o divino
Subvertes o conhecimento a teu belo prazer
Com o teu ar adulterino
Fingindo um grande valor enobrecer
Hoje vejo-te como realmente és…
Um pobre tolo vestido de algo que não és,
Que engana e se engana
Sem ter noção que em vez de andar,
Que em vez de curar,
Tristeza e mágoa emana
E de joelhos te arrastas
Enquanto a luz de ti afastas

24/11/2010

O Errante à deriva


A tua prosápia e recusa
Foi a tua cegueira excusa
Em lutar pela felicidade
Não queres amar
Porque tudo desprezas
Enchendo o teu ego de vaidade
E de egoísmo sem par
E pelo caminho tudo pisas
Recusaste a porta que se abriu
E ignoraste a Estrela que já partiu
Partiu para outra constelação
Onde o brilho não é a devassidão
Onde não há jogadas mestras
Nem atitudes levianas e preversas
Perdeste a chave de conhecimento
Caíndo no pior do esquecimento:
Sobrevives no engano,
Alimentas o profano.

21/11/2010

Carta de Amor...



Tanta coisa para te dizer,
Outra tanta para te fazer…
Perco-me em pensamentos
Pensando em vários momentos
Os que ainda não aconteceram
E todos aqueles que já foram,
E que me elevaram a um estado tal
Em que a alegria foi total
Recordo o teu cheiro
Que me provoca um formigueiro
Desejando sempre ver-te
Para te sentir, para tocarte
Para passar no teu peito a minha mão
Sem que te apercebas da minha agitação
Para que o meu corpo possas sentir
Por causa das palavras que são dificeis de proferir
Na esperança que sintas o que a minha boca não diz
E que ouças os ecos dos meus pensamentos gentis
Quero ouvir o teu pulsar com o meu
Para alcançar o apogeu
Quero sentir o teu peito contra o meu
Para recordar o abraço que se deu
Quero olhar-te sem pressas
Para guardar a tua imagem enquanto não regressas
Quero a tua boca beijar
Para que sintas o meu corpo falar…
Falar o que sinto, mas que tenho medo de dizer
E olhar-te sem ter medo de nunca mais te ver
Cada vez que ficas mais perto
Tudo em mim fica mais desperto
E todas as pequenas coisas à minha volta
Deixam de interessar enquanto que o beijo se solta…

02/11/2010

Sabes quem sou?


Sabes quem sou?
Consegues ver-me?
Ou ficaste pelo óbvio,
Deixando-te deslumbrar pelo exterior?
Um ou outro olhou...
Mas nenhum conseguiu perceber-me.
Todos se drogam pelo mesmo ópio,
A ilusão e a aparência que esconde o interior
Onde me encontro
Onde simplesmente sou,
Sem capas, máscaras ou subterfúgios,
Ou artes mágicas cheias de encantamentos
Para ludibriar os que querem ser cegos.
Todos vêem o meu corpo e a minha pele,
Mas quem vê a minha alma?
Por vezes abro a porta
Por entre vários refúgios,
Por muitos momentos e pensamentos,
Penso que alguém tem o que é preciso...
Mas cedo se dá o desencontro
Que no mais recondito dos egos
Se mostra impiedoso e conciso.
Por vezes contorno uma dúvida remota
Para logo haver uma certeza que repele
O subliminar enganador
E de novo se instala a dor...
Continuas a não saber quem sou...
Preferes as velhas capas e dogmas
E apostas em jogos e enigmas
Que te levam sempre a ruas sem saída,
Consequência em que a tua razão nunca pensou,
Por isso continuo retraída...
Será que queres mesmo saber quem sou?

20/10/2010

Abrindo a Porta


Quero abrir uma porta
Cuja combinação desconheço
E ao não saber o que fazer
Sinto-me frustrada e entristeço…
De manhã até ao anoitecer
Busco a combinação da porta
Mas os números teimam em não aparecer.
Procuro no meio de palavras,
Procuro por entre gestos,
Procuro dentro do olhar,
Procuro algo que me guie.
Cansa e desespera esta busca
Porque obriga a demolir esta armadura
Que já se torna pesada e dura,
Cheia de memórias enferrujadas e abstractas
E tão gastas que já ninguém quer lembrar
Tenho que largar armas velhas e gastas
Para que um novo tempo se inicie.
Preciso de perder o medo
Para conseguir decifrar a combinação
Na sua mais infinita expressão.
Olho a porta novamente,
Encosto o ouvido à espera de algo perceber,
De sentir algo benevolente…
Oiço, em sussurro, um segredo…
“Vai…passo a passo… e abrirás a porta.”
Assim será o caminho a percorrer.

12/09/2010

A vontade de um beijo



Querias atravessar o oceano
Para um beijo me dar.
Pedi para entregar
O beijo ao vento...

Entregaste mais do que um beijo
Pois, quando pelo mar passava
A suave brisa em vento se transformava
E cumprido estava o teu desejo.

Quando um beijo me quiseres dar,
E grande seja a distância
Pensa no mar...
Olha o "beijo" que te dou na ânsia
Do teu desejo apaziguar...

29/08/2010

Amar...

Dá liberdade a quem amas, se voltar é porque é teu, se não voltar é porque nunca te pertenceu.




Amar não significa prender,
Mas sim o acto de libertar
Sem medo do outro perder.
Se não houver liberdade,
É o mesmo que cortar as asas
A um pássaro sem dó nem piedade.
Sem liberdade para voar,
O pássaro definha e morre
Porque os dias e as horas
Se arrastam sem cor e alegria,
Num lamento de um gato que mia,
Triste por estar preso...
Amar sem dar espaço
Sufoca e entorpece
Murchando o sentimento doce
Que outrora nasceu num sorriso,
Numa troca de olhares,
Criando uma ansiedade num desejo.
É urgente parar de ter medo,
É necessário dar asas,
É imperioso libertar
Para poder amar livremente.

Terra Encantada


Ao longe levanta-se a bruma,
Sorrateira, fintando montanhas e vales,
Para dar lugar ao sol, que se apruma...
Infiltra, suavemente, seus raios nos caules
Da erva fresca de orvalho brilhante,
Acordando a floresta e seus habitantes:
Fadas de delicadas asas,
Transparentes e luzíias,
Cantando doces melodias;
Duendes endiabrados e saltitantes,
Correndo desenfreados pelas árvores;
Unicórnios, brancos como a neve,
Andando calmamente por entre beija-flores...
Tudo desperta lentamente.
O arco íris surge dando vida e cor
A um céu azul cheio de borboletas,
Esvoaçando de flor em flor.
Eu sou o vento, aquele que embala
Docemente as folhas e as flores,
Numa dança graciosa,
Levando, a quem quiser ouvir,
Os bons dias de mais um dia
Na terra encantada.

24/08/2010

Lucidez




O dom da lucidez...
Há quem a procure durante uma vida.
Quem a encontra sente acidez
E tenta, desperadamente,
Retornar à tranquilidade perdida.
Já não há caminho de volta,
Pois uma vez desperta a mente
Nada voltará a ser como dantes...
Ganha-se uma consciência nova,
Expulsam-se convicções pedantes,
Toscas e sem sentido.
É um processo lento e doloroso...
É um sangrar de alma repetido,
Por dias a fio em que o tempo, vagaroso,
Teima em se arrastar...
Nada é complacente,
Não se vislumbra o fim, sem data assente...
E mais um dia passa
Para a noite dar lugar,
Propícia à reflexão,
Inimiga da loucura
E irmã da razão...
Lentamente, prossegue-se a procura
Do equilíbrio que tarda...
Não fosse a perseverança,
Sempre escondida mas resistente,
A lucidez, esse estado por muitos cobiçado,
Jamais seria alcançado,
Tornando-se numa inútil amarra
Onde se caíria num abismo permanente.

Pedras...



As palavras são como pedras
Rolando monte abaixo...
Algumas param logo que atiradas,
Outras há que não sabemos onde e quando irão parar...
Depois há aquelas que atiramos à água sem nunca saber se foram muito fundo...
Ou talvez não!
E se a água secasse?
Quantas pedras contaríamos?
Saberíamos quais tínhamos lançado?
A água não seca...continua a correr...e a esconder as pedras....

20/08/2010

Dor de Alma



Bate, bate e torna a bater
Mas a dor depressa se esvai
Num lamento, num choro convulsivo,
Até se esbater...
Até se perder...
A memória, o registo,
É mais persistente e evasivo,
Corrói...mina...trucida
De forma lenta, bem devagar...
Quando surge, de rompante,
Consegue inflingir
A maior dor que conheço:
A dor de alma!

O Momento



Quero esvaziar a mente,
Para limpar, de forma permanente,
As más recordações e memórias
De outras épocas e histórias...
Quero tudo purgar
Para tudo limpar.
A justiça tem que ser reposta
Em nome dos que pedem resposta
Em nome dos que pedem liberdade,
E precisam de repor a verdade,
Para poderem viver novamente
E um novo caminho seguir.
Quero aprender a viver o momento presente
Para um novo sentido descobrir,
Para, por fim, me reencontrar
Como criança pura e inocente,
Como pessoa adulta e decente,
Juntando as peças espalhadas
Que se vão encaixando,
Sempre que as vou encontrando
Nas minhas pequenas passadas.
Procuro o meu tesouro perdido
Que de mim foi escondido.
Continuo a seguir os sinais
No meio de muitos uis e ais
Para poder saber onde estou
E poder responder: simplesmente SOU!!

13/08/2010

Navegadores solitários


Nos rostos anónimos
Escondem-se histórias
Procurando, talvez, a liberdade
Em vãos de escada, em ombreiras frias,
Vagando na incerteza da noite...
Inadaptados, refugiam-se no cair
Da penumbra que os chama...
Acham-se nas sombras, perdendo-se nos dias.
O calendário não importa...
As datas festivas talvez...
A solidão e o afastamento são seus próximos
A par do cão, que, à falta de amigos,
Se torna o fiel companheiro da solitária
Caminhada, o único elo de fraternidade
E carinho que os liga, ténuamente, ao mundo normal,
Ou assim julgamos que o é!
Ousaram contrariar todos os ditâmes,
Contrapuseram regras e leis na
Procura da sua verdade,
Da sua identidade ainda por encontrar,
Sonhando navegar na via láctea
Na cauda de um cometa
Por uma mão resgatadora de um
Mundo ausente, preconceituoso
E desequilibrado, habitado por
Seres que se acham normais
Só porque não necessitam da
Bondade da ínfima parte que vê,
Em cada rosto destes, um ser humano,
Feitos do mesmo material que
Todos os outros...
Normal?!?!?!? É hora de ir às compras...
A noite já vai comprida e ainda não está gelada...
Estende-se uma mão
Para acudir outras que, envergonhadamente,
Se levantam na busca de conforto,
Em forma de alimento...
É mais uma sopa...se puder, mais um pouco...
Depois...retiram-se confundindo-se com
As luzes da cidade adormecidas,
Voltando ao torpor e inércia
De um vazio que os move, apesar de tudo!
Ao relento vão ficando
Como os bancos vazios no jardim
Feitos de pedra dura e cinzenta.


Memória de uma ronda pela cidade do Porto, com a "Legião da Boa Vontade", a dar alimentos aos sem abrigo: 4 de Novembro de 2007.

05/08/2010

Palavras


Por vezes as palavras pairam
Na minha mente como num desafio.
Não as consigo agarrar, porém bailam...
Contudo, por entre um misto de fastio,
Elas regressam, irreverentes.
É um momento de repentes,
Que se solta antes de se conter,
Outras vezes há que se abafa,
Tal o tamanho que representa o seu poder.
Este domínio provoca estafa...
As palavras, essas...são duras,
São como punhais que dilaceram.
Raras são as vezes que se tornam puras,
Meigas, gentis e ternas...
Falo do poder das palavras,
Que desde tempo imemoriais perduram
E fazem eco nas nossas emoções,
Causando verdadeiras tempestades
No nosso íntimo como larvas.
Existem as chamadas "palavras certas",
Que ditas no momento oportuno curam,
Apaziguam, constróiem boas sensações.
As palavras erradas têm poder...
Mas as palavras certas
Têm um poder ainda maior...são milagrosas!

02/08/2010

Sou


Sou uma mulher
Que já foi criança
E que me perdi na infância
No meio de loucos emaranhados.
Cresci aos tropeções
Crendo em ilusões,
Cruzando várias utopias e quimeras
Que agora pertencem a outras eras.
No meio de uma encruzilhada
A uma decisão me vi obrigada:
A vida ou a morte?
Escolhi a vida, por sorte...
Por entre recuos e avanços
Vou escolhendo os meus passos,
Nem sempre certa do caminho,
Mas confiante no destino.
Certezas não as tenho,
Mas com esperança e empenho
Sigo com grande determinação
Sempre com uma direcção:
Renascer, viver e SER!

18/07/2010

Outsider


Nasceu no mês de Setembro
Anunciando novidade na madrugada:
É uma menina!
Foi um intensa alegria
Que, aos poucos, de tamanha sensação
Deu lugar a surpresa e admiração
Até que desaguou em apatia
Para encalhar numa maré emaranhada
De fardos e pesos em ruína
De tão velhos que são.
Menina alegre e bonita,
Porém, era também diferente
Cuja autenticidade era desdita
 Por outros, na esperança de a amarfanhar,
Como quem a desacredita.
Muitos a pisaram para a abafar,
Outros tentaram prende-la
Numa linda gaiola dourada
Mas acabaram por perde-la...
Cansada, exausta e estourada
De tanta prisão e sufoco,
Quase caiu num enorme fosso
Sem caminho de retorno...
Num esforço quase impossível,
Mas para muitos um grande transtorno,
Decidiu escolher outro caminho.
Libertou-se de atilhos e velhos pergaminhos,
Ignorou os caminhos já feitos,
Desacreditou-se de amores perfeitos
E construiu a sua própria estrada
Num percurso limpo da recente chuvada,
Provocada pela lavagem de guerras e feridas
Por demais sentidas.
Agora é tempo de largar vozes insensatas,
É tempo de esquecer angústias amontoadas,
É tempo de encontrar um lugar ao sol,
Seguindo a melodia doce de um rouxinol,
Que anuncia a alegria,
Que anuncia uma outra cortesia
Da vida, agora mais benevolente
Por ter sido tão valente.

15/07/2010

A Ponte


Encontraste o mapa do tesouro,
Puseste em marcha a viagem,
Reuniste mantimentos,
Iniciaste a contagem
E foste em busca do ouro.
Porém, encontraste contratempos,
Dificuldades inúmeras
E a tua viagem tornou-se pesada
E as tentativas de avanço infrutíferas...
Quando pensavas estar perto,
Logo a desilusão surgia
A lembrar tudo o que te impedia,
E nada de nada parecia dar certo...
Por fim, a uma ponte chegaste.
Começaste a travessia,
Mas a meio paraste,
E olhaste, ansioso, para a outra margem...
Antecipaste o futuro,
Previste novos e dolorosos sacrificíos,
E concluiste que tudo te era desconhecido...
O medo, a par da visão da preciosa recompensa,
Foi maior e conseguiu dobrar-te.
Foi aí que voltaste para trás
Quando o teu sonho era outra paragem.
Ficaste a olhar a ponte
Como quem olha algo forçosamente interrompido,
Mas ainda ancorado ao conhecido,
Com os velhos fardos a soçobrar-te...
O passado não se desfaz
Com passes de magia
Ou meras artes de camuflagem...
E continuas no mesmo lugar,
Sentado, como quem pensa
No dia de amanhã com as mesmas teias do dia de ontem...

11/07/2010

Ausência


Longe vai o tempo
Que um certo homem
Ocupava o meu pensamento...
Mas isso foi ontem!
Hoje, tu, do azul profundo,
Ocupas o meu pensamento.
Mas também tu te afastas...
A distância, física, devería apagar-se
No entanto, a lembrança arrasta-se...
Como um cinzel na madeira a deixar marcas.
Até o vento, conspirador, te carrega
Recordando-me que estás longe...
Tento declarar trégua,
Porém, o meu coração, ingénuo, logo me foge
Desobedece e corre para a lua
Onde um dia fui tua...

Saudade



Saudade é um sentimento doloroso
Para quem gosta e ama.
Apesar do que a vida trama,
A vontade e o sentimento é poderoso,
Pois nunca se esquece da pessoa ausente
Que no nosso coração está sempre presente!

Dedicada ao meu sobrinho Vitor que há muito não vejo, por razões e guerras completamente vãs e inúteis. Continuo na esperança que um dia destes nos iremos encontrar para nunca mais nos separarmos.

Vitor, nunca te esquecerei!

22/06/2010

Sonho Interrompido



Passeio pela avenida
Dos sonhos interrompidos
À procura do elo que se perdeu na vida
No meio dos trilhos desavindos

Sou ave errante
À fome e ao vento
À procura de alento
Qual cavaleiro andante!

Procuro aquele que me vai
Devolver a alegria de viver
Só ele para me tirar esta dor
Só ele para me fazer renascer
Só ele sabe pintar o meu mundo com cor

Sou a preto e branco
De um pigmento que com o tempo se esvai
Nesta longa espera
Sentada no banco...

Continuo na longa avenida
Dos sonhos interrompidos
Esperando reatar
O fio condutor
Do emaranhado complicado
De tempos idos...

Céu Cinza


Céu cinza, por vezes iluminado,
Qual quadro de algodão pintado.
Raios de sol fugidíos,
Sol escondido em dias tardios
Assim os dias se sucedem
A par das vidas que se tecem...
Palma de mão de fortes traços
Que se desvanecem
Numa manhã cinzenta e gelada,
Cortada pelo vento, de um só trago...
No horizonte, vislumbra-se um vulto...
É uma sombra, escura...
Parece agonizar...em luto...
Mas eís que se ergue! Procura...
Retoma o caminho, em pesados e lentos passos,
Vai caminhando, perdendo-se no espaço...

15/06/2010

Resiliência


Paciência por onde andas?
Procuro-te por toda a parte
E não consigo encontrar-te…
As minhas emoções atropelam-me
E não consigo por vezes controlar-me…
Sinto-me como o mar,
Gigantesco, belo mas com a fúria das ondas
Que a qualquer momento promete arrasar,
De uma só assentada o mais robusto rochedo,
Berço de ninhos de aves sem medo,
Que perenemente resiste ao rebentamento,
Das mais violentas tempestades,
Ignorando ventos cortantes,
Vendo as ondas na praia esmorecendo…
Sento-me na areia cheia de despojos,
Que o mar vomita na sua indisposição,
Cansada e desorientada, fecho os olhos…
Sei que tenho de escolher entre a felicidade e a razão,
Manejar as artes de encantamento e dissimulação…
Contudo, o meu feitio e temperamento são bravios,
Fruto do sangue que me corre nas veias,
Temerário, corajoso e sempre pronto a desafios,
Porém, arredio a impasses e indefinições
Não sabendo o que fazer perante imposições…
Sinto-me num emaranhado de teias…
Presa, sem liberdade de movimentos…
Sou um animal selvagem que não sabe estar preso,
Sou um espírito livre em tormentos
Correndo em busca de um lugar,
De um abrigo cálido e fresco,
Para poder viver, para poder respirar…

Destino


Destino…fado fatal…
É uma explicação tal
Impelida pelo desconhecimento
Dos factos verdadeiros.
É uma cegueira com contratempos
Que impede e esconde o verdadeiro conhecimento.
É o jogo do gato e do rato
Bem conhecido de todos os herdeiros,
Mas que permanece na penumbra,
Sob um véu velado, sob o perene acto
Que normalmente adormece na tumba
Para voltar camuflado
Numa nova ou velha alma deste mundo,
Mitigando-lhe a consciência,
Atrofiando-lhe a sapiência
Numa estranha ciência
Que desafia os cânones medicinais,
Tornando-o num apátrida imundo,
Rejeitado pelos semelhantes da espécie
Que agem com autoridade e razão
Ansiosos para esquecerem a sua própria confusão
Lançando mais água suja na hélice
Que atira para os olhos dos demais
Para que ninguém veja, para que ninguém saiba
Para esconder a vergonha e a raiva…
Teimam em dizer que é o destino…
Mas é mais a perda do tino
Consequência da teia emaranhada
Da vida mal amanhada
Que nos coube cumprir
Esperando nenhuma regra basilar infringir…

12/06/2010

O presente estampa o futuro



O comboio percorre o trilho
Percorre o teu caminho,
O teu destino.
Este é o momento da tua fuga,
Este é o descanso da tua luta.
No entanto, um breve descanso...
E eu ainda não te alcanço!
Olho parao céu enovoado
E o futuro com névoa é toldado.
Para quando  reencontro?
Qual o momento de união?
Sonho com o dia em que te encontro,
Vivo do desejo que tenho no coração...
Mas continuas distante,
Lá longe, na cidade branca...
Foges, regressas por um instante,
Tornas a ir e colocas no teu passado
Uma tranca...

19/05/2010

Desconhecido


É algo que se deseja, mas ao mesmo tempo se receia...
É uma curiosidade inata mas que se contradiz
Perante a voz da razão, ao passo que a loucura te tortura
Queres, mas ao mesmo tempo não queres,
Como saberás como será se jamais a tal te atreveres?
Não sabes...a indefinição incomoda-te
E continuas à espreita...ao longe...
Ao fundo ela permanece...pacientemente...
Silenciosamente espera vigilante...
EIS O DESCONHECIDO!!!!!

25/04/2010

Partida












Deixei-te um dia
E fechei a porta.
Comigo levei a minha dignidade
E deixei-te para ir em busca da felicidade.
Deixei-te, porém, ainda te amava...
Contudo, nada te importava...
Deixaste-me sair da tua vida
Sem dizer nada, e nem sequer te importa
Tudo o que para trás ficou.
Amor é algo que desconheces...
Hoje recupero o caminho interrompido,
Hoje já não estás nas minhas preces,
Hoje sei que o que senti por ti o mar levou,
Hoje uma parte do destino está cumprido.

01/04/2010

Esperança

Esperança que nunca morre,
No grito que se dá
Gerado pelo desespero,
Eís a fonte da Esperança!
Quantas noites frias e escuras
Já tu, ó Esperança, iluminaste?
Decerto inúmeras...
Dizem que és a última a morrer,
Mas...nunca deverias morrer!!!!
Em ti se deposita a última réstea de luz
Que espreita a cada encruzilhada,
Neste árduo caminho.
Se morres, o amanhã deixa de existir...
Vive, vive, vive!!!!
Jamais deixes de estar presente
Quando me deparo numa estrada sem saída,
Jamais deixes de me desenhar
Um sorriso no coração,
Jamais deixes de me iluminar
O amanhecer de um novo dia!

Doce conspiração

Que o Universo conspire,
Do alto de uma montanha,
Como se o vento suspire,
Como uma flor se apanha
Para o pôr do sol nos conduzir
Por caminhos floridos,
Por entre mil sóis a luzir
E pelos arco-irís produzidos...
Os sinais vou recebendo,
As portas vão se abrindo,
E o caminho vou percorrendo
E o destino se cumprindo...

Esperando

Desejo ver-te...
Desenho o teu nome num vidro imaginário
Onde do outro lado se vê o mar,
Num dia de chuva
Onde o Outono é rei e senhor.
A tua imagem está longe
Como a linha do horizonte...
Perco-me na memória dos teus olhos...
À espera de te ouvir chamar o meu nome,
À espera de ver um sinal teu,
Como se fosse um navio imerso,
Em espesso nevoeiro com ânsia
De vislumbrar a luz do porto seguro...
Os dias passam e a tua ausência indesejada
Não se decide a ir embora.
Fazes-me falta todos os dias...

29/03/2010

Vigilia

Amor meu que os olhos fechaste
Para o que te rodeia
Fechaste-te...
Encontras-te preso numa teia
Que te prende a um mundo
Triste, lúgubre e traiçoeiro
Que mundos e fundos te promete
Que te mostrou os primeiros dias de Janeiro
Para te arrastar para um eterno Inverno
Disfarçado de bela Primavera
Num dia de Verão quente e soeiro
Com a promessa de uma nova era...
Não percebes??? É tudo um embuste!
Acorda meu amor...por favor acorda...
Sou eu que te bato à porta...
Porque não me deixas entrar?
Porque dormes? Porque continuas de olhos fechados?
Não me ouves...estou de mãos e pés atados...
O teu silêncio arrasta-me para longe,
Pois a minha âncora corrompeu-se
À espera de te ver acordar,
À espera do amanhã prometedor
Que no horizonte perdeu-se,
Á procura de um abraço quente
Que me aperte e me faça sentir arrebatada
Por um sentimento que tudo ultrapassa...
Estou cansada...não te consigo mais chamar...
Se não acordares terei que deixar a tua porta
Já forçei a minha voz até sentir dor,
Só para te chamar...para te acordar...
Porém, continuas a dormir como se nada se passasse...
Queria que me olhasses...
Como se tivesses acabado de nascer
Para o pulsar da vida nas tuas veias sentires
Não deixes o por do sol esmorecer
Por favor acorda....

Guerra Inútil

Embarcamos num despique fatal,
Sem ter noção do princípio,
Sem qualquer data para terminar...
De parte ficaram os impíos,
E tudo agora passou a ser banal,
Apenas com memórias para contar...
Triste destino o nosso...
O amor transformou-se em desamor,
Em catadupas sucessivas de beliscões,
Que depressa passaram a profundas desilusões,
E preenchidas com uma profunda dor
Com cada um a dizer quero e posso.
Cada um escolheu as suas armas:
Um pegou em paus,
Outro pegou em espadas.
E foi um desferir de rudes golpes,
A torto e a direito,
Numa escalada sem procedentes,
E o imponderável ficou feito...
Deixou de haver "Nós",
Que se perdeu num monte de quimeras
Onde outrora houvera um sentimento nobre
Capaz de enfrentar todas as guerras.
Tudo se perdeu e o nosso mundo ficou mais pobre,
Sem cor e sem alegria...
Ficou a pesada derrota...
Que aniquila quem tudo controlar queria
Perdemos o exército de argumentos,
No meio de uma imensa tristeza e apatia
Cientes que tudo foi um desvario
E envergonhados, tapamos a cara!
Nem tu, nem eu ganhamos...
Perdemo-nos no meio de um rio,
Em águas tormentosas
Ao ponto de perdermos a esperança,
A esperança de quem tudo alcança...
Estamos prostrados...
Perante os despojos estropiados
Não resta nada a não ser avançarmos...
Avançarmos...sabendo que tudo foi em vão,
Sabendo que quando começamos,
Apenas queríamos, não a guerra, mas sim o amor...

Resgate

Coração destroçado o meu
Cheio de promessas do que iria ser
Arrasado pelo que nunca foi
Sonhos e projectos prometeu
Quando nunca pensou prometer
E apenas pensou controlar e ter
Para não mais sofrer...
Vã e estúpida ilusão a tua!
Sofreste, sofres e fazes sofrer
Numa espiral sem controlo
Que te tolda o juízo!
O meu jardim pisaste...
Sem querer e sem te importares
Alheio a ti, alheio a todos...
Sou a única que nunca te traiu
Sou a que ainda te ama
Mas que da tua vida saiu
Para à morte fugir
Para manter acesa a chama
Da vida que arde e clama!
Clamo por amor incondicional,
Sem que, no entanto, seja fatal
Clamo por respeito
Ao invés de despeito
Clamo por aceitação
Sem cair no erro da perfeição
Porque todos somos humanos
Sendo um erro querermos ser endeusados.

Novo Rumo

Digo adeus às lágrimas e ao sofrimento,
Sorrio a uma nova vida
Que me trouxe o vento de mudança
Por entre tormentas, trovões e relâmpagos.
Abraço as lições de vida
Agradeço o que aprendi com humildade.
Caminharei para uma nova fonte de luz
Renovada e renascida
Convicta que o verdadeiro amor
É quando nos sentimos felizes pelo outro estar feliz
Deixar partir, deixar ser.
Amor com sofrimento não é amor,
É apego...apego ao passado e ao que já deixou de ser.
Entrego ao vento as mágoas que ainda me restam
Para que sejam dissipadas e transmutadas em alegrias
Entrego ao mar profundo a tristeza que vivi
Para dar lugar a uma nova alegria genuína.
Quero viver, amar e amar, amar, amar
Porque acredito no amor,
Porque acredito no dar e receber com equílibrio.

Pedaços

As lágrimas não param...
Choro pelo tempo que tivemos,
Pelo que poderíamos ter tido
E nunca foi possível viver...
Choro por um sentimento que me extravasa a alma
E que se desmanchou no reino da ilusão
Caindo lá do alto
Partindo-se em mil pedaços...
Estou a juntar as peças partidas
Mas em todas elas vejo-te
E a tristeza regressa
Transformando os meus olhos
Num mar de lástimas e tristeza...
Mas é tempo de mudar,
É tempo de recomeçar do nada.
Para onde não sei...vou para onde o vento me leva
Pendurada na asa de uma gaivota
Cujo lamento me acompanha.
Continuo dependurada na asa
À espera de vislumbrar
Um lugar tranquilo, sereno e que me dê paz

O Barco do Tesouro





Sei que nada sou, mas sei para onde vou.
 O vento embala-me com doçura,
 por entre obstáculos e vida dura.
 Aqui cheguei num barco que me trouxe,
 num conluio que, por necessidades várias, houve.
 Num misto de inspiração e ousadia,
 tive que por a escrita e a alma em dia.
A contemplar o mar e sua imensidão intemporal,
 deparei-me com a verdade do ser colossal,
cheia de mistérios e ruas sem saída,
que se entrelaçam algures nesta longa via.
 Por entre sinais e, como por magia,
vou desatando nós e colocando as peças,
 outrora perdidas, refazendo, restaurando e desfazendo perfídias.
 Sinto a paz e a serenidade, juntas, a chegar...
Falta agora uma pequena e importante parte,
 sem a qual não é possível alcançar o bem e a suprema arte!...
A arte de bem viver!!