Dá liberdade a quem amas, se voltar é porque é teu, se não voltar é porque nunca te pertenceu.
Amar não significa prender,
Mas sim o acto de libertar
Sem medo do outro perder.
Se não houver liberdade,
É o mesmo que cortar as asas
A um pássaro sem dó nem piedade.
Sem liberdade para voar,
O pássaro definha e morre
Porque os dias e as horas
Se arrastam sem cor e alegria,
Num lamento de um gato que mia,
Triste por estar preso...
Amar sem dar espaço
Sufoca e entorpece
Murchando o sentimento doce
Que outrora nasceu num sorriso,
Numa troca de olhares,
Criando uma ansiedade num desejo.
É urgente parar de ter medo,
É necessário dar asas,
É imperioso libertar
Para poder amar livremente.
29/08/2010
Terra Encantada
Ao longe levanta-se a bruma,
Sorrateira, fintando montanhas e vales,
Para dar lugar ao sol, que se apruma...
Infiltra, suavemente, seus raios nos caules
Da erva fresca de orvalho brilhante,
Acordando a floresta e seus habitantes:
Fadas de delicadas asas,
Transparentes e luzíias,
Cantando doces melodias;
Duendes endiabrados e saltitantes,
Correndo desenfreados pelas árvores;
Unicórnios, brancos como a neve,
Andando calmamente por entre beija-flores...
Tudo desperta lentamente.
O arco íris surge dando vida e cor
A um céu azul cheio de borboletas,
Esvoaçando de flor em flor.
Eu sou o vento, aquele que embala
Docemente as folhas e as flores,
Numa dança graciosa,
Levando, a quem quiser ouvir,
Os bons dias de mais um dia
Na terra encantada.
24/08/2010
Lucidez
O dom da lucidez...
Há quem a procure durante uma vida.
Quem a encontra sente acidez
E tenta, desperadamente,
Retornar à tranquilidade perdida.
Já não há caminho de volta,
Pois uma vez desperta a mente
Nada voltará a ser como dantes...
Ganha-se uma consciência nova,
Expulsam-se convicções pedantes,
Toscas e sem sentido.
É um processo lento e doloroso...
É um sangrar de alma repetido,
Por dias a fio em que o tempo, vagaroso,
Teima em se arrastar...
Nada é complacente,
Não se vislumbra o fim, sem data assente...
E mais um dia passa
Para a noite dar lugar,
Propícia à reflexão,
Inimiga da loucura
E irmã da razão...
Lentamente, prossegue-se a procura
Do equilíbrio que tarda...
Não fosse a perseverança,
Sempre escondida mas resistente,
A lucidez, esse estado por muitos cobiçado,
Jamais seria alcançado,
Tornando-se numa inútil amarra
Onde se caíria num abismo permanente.
Pedras...
As palavras são como pedras
Rolando monte abaixo...
Algumas param logo que atiradas,
Outras há que não sabemos onde e quando irão parar...
Depois há aquelas que atiramos à água sem nunca saber se foram muito fundo...
Ou talvez não!
E se a água secasse?
Quantas pedras contaríamos?
Saberíamos quais tínhamos lançado?
A água não seca...continua a correr...e a esconder as pedras....
20/08/2010
Dor de Alma
Bate, bate e torna a bater
Mas a dor depressa se esvai
Num lamento, num choro convulsivo,
Até se esbater...
Até se perder...
A memória, o registo,
É mais persistente e evasivo,
Corrói...mina...trucida
De forma lenta, bem devagar...
Quando surge, de rompante,
Consegue inflingir
A maior dor que conheço:
A dor de alma!
O Momento
Quero esvaziar a mente,
Para limpar, de forma permanente,
As más recordações e memórias
De outras épocas e histórias...
Quero tudo purgar
Para tudo limpar.
A justiça tem que ser reposta
Em nome dos que pedem resposta
Em nome dos que pedem liberdade,
E precisam de repor a verdade,
Para poderem viver novamente
E um novo caminho seguir.
Quero aprender a viver o momento presente
Para um novo sentido descobrir,
Para, por fim, me reencontrar
Como criança pura e inocente,
Como pessoa adulta e decente,
Juntando as peças espalhadas
Que se vão encaixando,
Sempre que as vou encontrando
Nas minhas pequenas passadas.
Procuro o meu tesouro perdido
Que de mim foi escondido.
Continuo a seguir os sinais
No meio de muitos uis e ais
Para poder saber onde estou
E poder responder: simplesmente SOU!!
13/08/2010
Navegadores solitários
Nos rostos anónimos
Escondem-se histórias
Procurando, talvez, a liberdade
Em vãos de escada, em ombreiras frias,
Vagando na incerteza da noite...
Inadaptados, refugiam-se no cair
Da penumbra que os chama...
Acham-se nas sombras, perdendo-se nos dias.
O calendário não importa...
As datas festivas talvez...
A solidão e o afastamento são seus próximos
A par do cão, que, à falta de amigos,
Se torna o fiel companheiro da solitária
Caminhada, o único elo de fraternidade
E carinho que os liga, ténuamente, ao mundo normal,
Ou assim julgamos que o é!
Ousaram contrariar todos os ditâmes,
Contrapuseram regras e leis na
Procura da sua verdade,
Da sua identidade ainda por encontrar,
Sonhando navegar na via láctea
Na cauda de um cometa
Por uma mão resgatadora de um
Mundo ausente, preconceituoso
E desequilibrado, habitado por
Seres que se acham normais
Só porque não necessitam da
Bondade da ínfima parte que vê,
Em cada rosto destes, um ser humano,
Feitos do mesmo material que
Todos os outros...
Normal?!?!?!? É hora de ir às compras...
A noite já vai comprida e ainda não está gelada...
Estende-se uma mão
Para acudir outras que, envergonhadamente,
Se levantam na busca de conforto,
Em forma de alimento...
É mais uma sopa...se puder, mais um pouco...
Depois...retiram-se confundindo-se com
As luzes da cidade adormecidas,
Voltando ao torpor e inércia
De um vazio que os move, apesar de tudo!
Ao relento vão ficando
Como os bancos vazios no jardim
Feitos de pedra dura e cinzenta.
Memória de uma ronda pela cidade do Porto, com a "Legião da Boa Vontade", a dar alimentos aos sem abrigo: 4 de Novembro de 2007.
05/08/2010
Palavras
Por vezes as palavras pairam
Na minha mente como num desafio.
Não as consigo agarrar, porém bailam...
Contudo, por entre um misto de fastio,
Elas regressam, irreverentes.
É um momento de repentes,
Que se solta antes de se conter,
Outras vezes há que se abafa,
Tal o tamanho que representa o seu poder.
Este domínio provoca estafa...
As palavras, essas...são duras,
São como punhais que dilaceram.
Raras são as vezes que se tornam puras,
Meigas, gentis e ternas...
Falo do poder das palavras,
Que desde tempo imemoriais perduram
E fazem eco nas nossas emoções,
Causando verdadeiras tempestades
No nosso íntimo como larvas.
Existem as chamadas "palavras certas",
Que ditas no momento oportuno curam,
Apaziguam, constróiem boas sensações.
As palavras erradas têm poder...
Mas as palavras certas
Têm um poder ainda maior...são milagrosas!
02/08/2010
Sou
Sou uma mulher
Que já foi criança
E que me perdi na infância
No meio de loucos emaranhados.
Cresci aos tropeções
Crendo em ilusões,
Cruzando várias utopias e quimeras
Que agora pertencem a outras eras.
No meio de uma encruzilhada
A uma decisão me vi obrigada:
A vida ou a morte?
Escolhi a vida, por sorte...
Por entre recuos e avanços
Vou escolhendo os meus passos,
Nem sempre certa do caminho,
Mas confiante no destino.
Certezas não as tenho,
Mas com esperança e empenho
Sigo com grande determinação
Sempre com uma direcção:
Renascer, viver e SER!
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